MEMÓRIA DO PROJETO
Um casal buscou o escritório para reformar o apartamento que seria seu lar em Brasília, na sua volta ao Brasil após viver anos no exterior. Projetado em um edifício das primeiras décadas de construção da capital, ele foi pensado como um abrigo de memórias de suas vidas e viagens pelo mundo.
O apartamento tem como destaque a estante em cumaru que se estende pela sala de estar, fazendo uma curva para a cozinha e se transformando em um painel para abrigar eletrodomésticos e mantimentos. Em uma extremidade, a estante forma a porta de entrada principal. Em outra, no lado oposto, se abre para revelar o lavabo. A dimensão da estante foi calculada especificamente para abrigar os livros e acervo de objetos dos moradores.
O pedido inicial foi a criação de espaços amplos, bem iluminados e atemporais, bem como a inclusão da cozinha na área social. Para contornar limitações impostas pela estrutura do apartamento, o cômodo então foi pensado como um volume branco que se destaca a partir do visual da sala de estar. Esse volume abriga, ainda, uma bancada de apoio para a mesa que pode ser usada como bar e buffet, além de uma janela entre os cômodos para permitir uma maior fluidez visual entre os espaços.
O apartamento possui características janelas máximo-ar, cuja estrutura metálica, que vai do piso ao teto, foi mantida aparente, preservando o aspecto do edifício e criando um contraste entre contemporâneo e moderno. Durante a demolição foi removido um piso flutuante existente, revelando um piso em tábua corrida de ipê, que foi tratado e complementado para percorrer todo o apartamento.
Na cozinha, é feita uma transição do piso de madeira para ladrilhos hidráulicos, com uma padronagem que se mistura com a sombra dos cobogós que vestem a fachada do bloco de superquadra. As luzes marcadas no chão criam um jogo de formas pensado para se confundir com o desenho escolhido.
Uma outra referência ao contexto de Brasília, as pastilhinhas brancas 2,5x5cm revestem todas as paredes dos banheiros, desde o lavabo até o banheiro da suíte. Essas pastilhas retratam a memória de áreas de pilotis de blocos de superquadra, equipamentos urbanos e outros espaços da capital, especialmente aqueles da geração dos anos 60 e 70.